Lúcio Mauro Filho e Bruno Mazzeo assumem personagens que foram de seus pais: Aldemar Vigário e professor Raimundo (Foto: Paulo Belote/Divulgação/Globo)
No início dos anos 1990, Chico Anysio considerou lançar-se candidato a deputado. Já que nunca se formara em direito, queria ser "advogado do povo", afirmou em 1993 no programa "Roda Viva".
Acontece que, pela legislação eleitoral, seria necessário tirar do ar o protagonista de "Escolinha do Professor Raimundo". Sabia que o personagem que eternizou o bordão "e o salário, ó?" já era indissociável de sua figura –o que poderia inviabilizar o humorístico diário na Globo.
O filho do humorista, o ator, diretor e roteirista Bruno Mazzeo, 38, passou por dilema parecido. Ele precisou pensar duas vezes antes de aceitar encarnar um dos papéis mais conhecidos de seu pai. Se negasse, temia que o programa não acontecesse.
Decidiu topar. A partir de segunda-feira (23), Mazzeo será o professor Raimundo num especial do canal pago Viva – depois, em 13/12, na TV Globo.
Em cinco episódios, o herdeiro de Anysio lidera a sala de aula em que atores como Lúcio Mauro Filho (Aldemar Vigário), Marcos Caruso (Seu Peru), Dani Calabresa (Dona Catifunda) e Marcius Melhem (Seu Boneco) prestarão homenagem aos 25 anos da primeira "Escolinha".
Sentiu medo das críticas, de reencarnar o personagem preferido de Chico Anysio ("apesar de ser o personagem menos engraçado, um ´escada´, era o xodó dele", conta o filho).
"Não faz muito tempo que meu pai morreu [2012]. Será que quero mexer nisso, neste momento? O xeque-mate foi: por que não? Vão deixar de fazer [o remake] porque eu não aceitei?", conta Mazzeo.
Talvez a produção seguisse adiante, como conta a prima Cininha de Paula, diretora da atração. "Agora, depois que ele fez, acho que não seria possível continuar sem o Bruno."
Cininha começou a carreira como diretora da "Escolinha", em 1990.
Da escola de Chico Anysio saíram atores como Tom Cavalcante e Claudia Jimenez.
E em seus bancos, grandes humoristas, como Orlando Drummond (Seu Peru) e Jorge Loredo (Zé Bonitinho), encontraram oportunidades de trabalho já fora do auge.
O humorístico, inspirado em um programa de rádio dos anos 1930, ficou no ar de 1990 a 1995, depois em 2001. O formato rendeu genéricos (veja abaixo) como a "Escolinha do Barulho" (Record) e "Escolinha do Ratinho" (SBT). "Não é um programa que está no inconsciente coletivo do brasileiro. Está no consciente, é reprisado", pontua a diretora.
Apesar da tradição, Bruno Mazzeo não fez a lição de casa de assistir às versões antigas. "Na véspera da filmagem, falei com o [Marcelo] Adnet ao telefone. ´Pô, estou vendo umas coisas do Rolando Lero, ele era muito bom´, ele disse. Pensei: ´Putz, todo mundo estudou, menos eu´."
"Me preparei na análise", diz ele. Mazzeo baseou a atuação na memória do pai –de quem ouviu histórias como a de um vendedor de perucas em Nova York, onde Chico comprava adereços para seus personagens, que estranhou a frequência anual com que o artista visitava sua loja: "Perguntou se ele era foragido".
Mesmo o professor Raimundo vivia se insinuando na rotina da família, em casa. "O personagem foi ficando muito próximo dele, principalmente quando o programa virou diário ", conta.
"Até o jeito de cruzar a perna parecia com o de Raimundo." O tique acabou absorvido pelo filho, também.
ROUQUIDÃO
A semelhança "assombrosa" entre pai e filho comoveu Lúcio Mauro Filho –que no remake vive Aldemar Vigário, personagem que já foi de seu pai. "Fiquei muito tocado de ver o Bruno, que já é um talento, num trabalho que resvala no sobrenatural."
A única coisa que o filho não se arriscou a reproduzir foi a rouquidão do personagem do pai. "Não sei fazer aquela voz, não tenho o timbre", afirma Mazzeo.
No fim, "ele nem sabe" o quanto ficou igual, diz a diretora. "Estava tão assustado que falei: ´Deixa de ser bobo´. Acabou que fez a voz", diz Cininha, a quem Bruno reclamou numa gravação, com dor de garganta: "Como meu pai conseguia fazer esta voz?".
AUTOR: Folha de S. Paulo
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